1. De acordo com Ferreira
(2012), apesar de ter muitos amigos e trânsito livre na Academia Brasileira de
Letras, Júlio Romão tentou por três vezes ingressar como membro da ABL, mas o
sonho de se sentar na cadeira dos “imortais” foi barrado. Ainda de acordo com o
estudioso Ferreira, quais seriam os motivos da não aceitação do referido autor
como membro da Academia? Quais os temas apresentados na sua produção literária?
(5 pontos)
Na primeira vez que se
candidatou foi barrado por Orígenes Lessa; na segunda vez cedeu a vaga a
Castelinho, um famoso jornalista também piauiense; na terceira vez já havia
transferido residência para Teresina. Ferreira questiona se tamanhos
impedimentos ocorreram pelo fato de Júlio Romão ser negro de pele muito escura
grande parte de sua obra tratarem de temas afrodescendentes e indígenas.
Ressalta, em contrapartida, que Machado de Assis também é negro, porém por
muitos anos a Academia de Letras omitia isso.
2. A construção da identidade afrodescendente na
escrita literária de Evaristo se faz por via da construção do imaginário e da
identidade negra que são ressignificados na história dos antepassados,
recontada à protagonista quando esta retorna à casa dos parentes negros.
Destaque do trecho que segue passagens que caracterizam a identidade
afrodescendente. (5 pontos)
“[...] Filho de ex-escravo,
crescera na fazenda levando a mesma vida dos pais. Era pajem do sinhô-moço. Tinha a obrigação de
brincar com ele. Era o cavalo onde o mocinho galopava sonhando conhecer todas
as terras do pai. Tinham a mesma idade. Um dia o coronelzinho exigiu que ele abrisse a boca, pois
queria mijar dentro. O pajem
abriu. A urina do outro caia escorrendo quente por sua goela e pelo canto de
sua boca. Sinhô-moço
ria, ria. Ele chorava e não sabia o que mais lhe salgava a boca, se o gosto da
urina ou se o sabor de suas lágrimas.” (PV, 2003, p. 14).
“[...] Um dia o coronelzinho, que já
sabia ler, ficou curioso para ver se negro aprendia os sinais, as letras de branco e
começou a ensinar o pai de Ponciá. O menino respondeu logo ao ensinamento do
distraído mestre. Em pouco tempo reconhecia todas as letras. Quando Sinhô-moço
se certificou de que o negro aprendia, parou a brincadeira. Negro aprendia sim!
Mas o que o negro ia fazer com o saber do branco?” (PV, 2003, p. 15)
“[...] Naquela noite teve
mais ódio ainda do pai. Se eram livres, por que continuavam ali? Por que,
então, tantos e tantas negras na senzala? Por que todos não se arribavam à procura de
outros lugares e trabalhos? [...] O homem não encarou o menino. Olhou o tempo
como se buscasse no passado, no presente e no futuro uma resposta precisa, mas
que estava a lhe fugir sempre.” (PV, 2003, p. 14-15)
“[...] Estava feliz. Acaba
de fazer uma descoberta. A cidade era mesmo melhor do que na roça. Ali estava a
prova. O soldado negro! Ah! que beleza! Na cidade, negro também mandava! [...]
Ele mandou que o branco guardasse Luandi na cela. Só trancasse o preso, não
fizesse nada... Luandi conclui que o soldado negro era mesmo importante. Era
ele quem mandava.
[...] Luandi só queria ser
soldado. Queria mandar. Prender. Bater. Queria ter a voz alta e forte como a
dos brancos.” (PV, 2003, p. 70-71)
Pergunte, ou responda algumas questões dos exercícios nos comentários. Aceitamos sugestões!
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