1. Sabe-se que a língua portuguesa deriva do latim
vulgar. No entanto, essa derivação não se deu de forma natural como, por
exemplo, por um simples contato entre línguas, mas devido a invasão e dominação
dos romanos aos povos hispânicos. Nesse sentido, leia o item 1.1 do livro da
disciplina e diga em qual século ocorreu a invasão dos romanos na Península
Ibérica? (6,0 pontos).
Século II antes de Cristo.
2. É pontual destacar que as
circunstâncias históricas, nas quais se formou e desenvolveu-se a língua
portuguesa, estão indissociavelmente relacionadas a fatos que constituem a
história geral da Península Ibérica. Por outro lado, no entanto, a história
geral peninsular é bastante confusa antes da conquista romana, sobretudo, no que
respeita saber quais povos nela habitavam. Coutinho (1976) discorre sobre os
povos que habitavam na Península àquela época. Apresente em forma de esquema os
postulados do referido autor sobre a população peninsular. (6,0 pontos)
POVOS
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ORIGINOU
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Cântabro-pirenaico
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Basco
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Mediterrâneo
|
Íbero
|
3. Na passagem do latim para
o galego-português, aquele passou por evoluções fonéticas, morfológicas e
sintáticas. Segundo Teyssier (1997), cronologicamente, é só a partir do término
do período imperial que o latim conhece as evoluções fonéticas. Nesse sentido,
aponte as principais mudanças fonéticas, morfológicas e sintáticas, quando da
passagem do latim para o galego-português. Vale ressaltar que como não podemos
separar morfologia de sintaxe, sobremodo quando se trata do latim, as evoluções
evidenciadas na morfologia se fazem refletir na sintaxe. (13 pontos).
Perda de oposições de
quantidade sofridas pelo latim imperial em relação ao latim clássico, que se
resumem na Tabela 1 a seguir:
Essa tabela mostra que o
latim clássico possuía cinco timbres vocálicos, pois havia uma vogal breve
indicada pelo sinal ¢ (bráquia) e uma vogal longa indicada pelo sinal
(mácron) para cada timbre, perfazendo um total de dez fonemas.
A partir do século VII, com
o desaparecimento da quantidade, a distinção entre as vogais passou a ser
percebida através da intensidade.
À evolução do vocalismo
tônico são acrescentadas, ainda, as alterações que os ditongos æ e oe, assim referidas
por Teyssier (1997), sofreram ao passarem de uma modalidade a outra, resultando
em vogais simples com timbres distintos, tais como descrevem os exemplos cæcum
> port. cêgo e foedum > port. feo, hoje feio. O sistema
vocálico tônico do latim imperial passa, então, a ser constituído por sete
vogais, resultantes das modificações fonéticas sofridas pelas dez vogais e
pelos dois ditongos do latim clássico.
Vê-se, então, que, nessa
passagem do latim clássico para o latim imperial, as quatro vogais médias
permaneceram não se distinguindo todas pela duração, mas pela diferença de
abertura representada por /e/ e /e/ e /o/ e /o/;
todavia, quando em posição átona, e e o o passaram a ser pronunciadas,
respectivamente, como e e o fechadas e como ê e o abertos.
O sistema das vogais orais
tônicas em galego-português medieval permaneceu o mesmo do latim imperial, com
sete vogais (TEYSSIER, 1997, p. 30).
Ex.: /i/: aqui, amigo; /e/:
verde, vez; /ê/: perde dez; /a/: mar, levado: /o/: pôs, boca; /o/:
pós, porta; /u/ : tu
Todavia, quando essas vogais
se encontram em posição pretônica, as oposições de timbre, entre /e/ e /ê/,
de um lado, e entre /o/ e /o/, do outro, neutralizam-se em favor das
vogais de timbre fechado, reduzindo o sistema de sete para cinco fonemas
(TEYSSIER, 1997, p. 31).
As consoantes simples:
• Dos grupos ci, ce e
gi, ge, em que as consoantes c e g,antes articuladas como
oclusivas(quilha, queda, guizo e guerra), assimilaram o ponto de articulação
das vogais i e e, isto é, zona palatal, tornando a pronúncia
palatalizada como: [kyi], [kye] e [gyi], [gye], em que,[kyi], [kye] passaram a
ser pronunciados [tši], [tše] e depois a [tsi], [tse] como em: ciuitatem >
port. cidade; centum > port. cento, retraindo-se a cem. Já para os grupos
gi, ge o resultado do processo de palatalização será primeiro um yod puro e
simples [y], que desaparece em posição intervocálica como em: regina > port.
rainha, frigidum > port. frio. Porém, quando em posição inicial, este yod
passa [d•], como por exemplo: gente (cujo g representa na Idade Média a
fricativa [d•]). Portanto, em galego-português medieval os grupos gi, ge e ju
eram, pronunciados como [d•i], [d•e] e [d•u];
• Dos grupos fonéticos [ty],
[dy], [ly] e [ny] palatalizam-se em [tsy] e [dzy], [lh] e [nh];
• Do yod proveniente de i
e e em hiato e depois de –ss-, esta consoante passou a [š]; ex.:
russem > roxo;
• da queda do l e n
quando seguidos de um yod passaram a [lh] e [nh]; ex.: filium > port.
filho, seniore > port. senhor.
Estes processos de
palatalização tiveram como resultado o surgimento de seis novos fonemas no
galego-português medieval: /ts/, hoje /s/, como em cidade; /dz/, hoje /z/, como
prezar; /d•/, hoje /•/, como em gente, hoje, vejo; /š/ sem modificação no
português moderno, como roxo; /lh/ sem modificação no português moderno, como
filho; /nh/ sem modificação no português moderno, como senhor, tenho.
Os grupos consonantais
românicos -cl-, -fl-, -pl-, quando precedidos de consoantes modificaram-se para
–ch-. E, quando este mesmo grupo mais –bl- e –gl-, está precedido de vogal,
modificam-se para lh.
Modificações
na Morfologia e Sintaxe:
• A declinação latina sofre
uma severa redução desaparecendo muitos dos seus casos, apenas, sobrevivem as formas
oriundas do acusativo: singular e plural;
• O trio genérico do latim -
masculino, feminino e neutro - reduz-se a dois com o desaparecimento do neutro;
• As quatro formas
pronominais illum, illam, illos, illas modfificam-se para lo, la, los, las,
como consequência da aférese sofrida pelo seu emprego proclítico;
• As relações sintáticas
expressas pelas desinências casuais latinas passam a ser expressas pelas
preposições ou pela própria colocação da palavra na frase;
• A morfologia verbal sofre
uma considerável simplificação.
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